Na ‘Davos do Deserto’, Eduardo Bartolomeo, da Vale, e Ana Cabral, da Sigma Lithium, falam sobre as oportunidades da transição energética para mineração
O Brasil ocupou uma posição de destaque numa das principais discussões do primeiro dia da Future Investment Initiative (FII), conferência promovida anualmente pelo príncipe da Arábia Saudita Mohammad Bin Salman e que se consolidou como a “Davos do Deserto”.
Ontem, a parte da tarde do evento – que recebeu CEOs do calibre de Jamie Dimon, do JP Morgan pela manhã – foi dedicada a discutir vários aspectos da transição energética. Num painel intitulado “Os metais que movem o mundo” (em tradução livre), dois brasileiros foram sabatinados: o CEO da Vale, Eduardo Bartolomeo, e a fundadora e presidente do conselho da mineradora de lítio Sigma Lithium, Ana Cabral.
Mais do que minério de ferro, o foco da apresentação de Bartolomeo era a área chamada de metais básicos, que reúne a produção de níquel, cobre e outros metais necessários para eletrificação e fabricação de baterias.
Há pouco mais de dois meses, a Manara Minerals – uma joint venture entre o PIF, fundo do soberano saudita com um a mineradora local – comprou uma fatia de 13% do negócio de metais básicos da Vale, por R$ 3,4 bilhões, em conjunto com a gestora americana Engine Nº1.
O negócio sofreu um spin-off dentro da Vale, como forma de dar mais agilidade à divisão, ainda menor quando comparado ao core business da mineradora brasileira, mas que deve ver a demanda crescer a taxas exponenciais em meio à transição energética, disse Bartolomeo.
“O que atraiu a Manara primeiro foi a velocidade, porque o negócio não está mais numa grande companhia focada em minério de ferro. Segundo, foi a pegada de carbono, porque o consumidor quer uma cadeia de fornecimento responsável. E, por último, nossa localização, com a tendência de friendshoring”, afirmou o CEO. A sede da Vale Base Metals fica no Canadá, onde acontece a maior parte da produção.
Bem menos tradicional que a Vale, a Sigma Lithium apareceu como um dos expoentes da nova leva de mineradoras – no caso, produzindo um dos metais mais utilizados para a fabricação de baterias, o lítio.
Com a exploração concentrada no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, a Sigma conseguiu em pouco mais de seis anos pavimentar o caminho para se tornar uma das principais produtoras de lítio do mundo, utilizando um método de barragem a seco que produz menos resíduo e tem uma pegada de carbono menor.
A mineradora, colocada de pé pela gestora de private equity A10, de Ana Cabral e Marcelo Paiva, já foi cortejada por empresas como a Tesla, de olho em garantir o acesso a matérias-primas para baterias. E há pouco mais de um mês anunciou que está oficialmente à venda, com o conselho avaliando uma série de propostas – de empresas de energia a montadoras.
A principal questão é preço. Sem tocar no assunto da venda, Cabral afirmou que no mercado, os investidores ainda subestimam o potencial da transição energética para mineradoras.
“Essas ações [de mineradoras de metais críticos para transição] são ações de crescimento, mas os investidores as precificam como se fossem ações de dividendos”, disse a empresária. Para ela, apesar de a Sigma gerar caixa e ter acesso ao mercado de dívida, esse custo de capital próprio elevado diminui a atratividade dos novos investimentos no setor, num momento em que o mundo precisa dessa oferta.
“Se as projeções de crescimento de carros elétricos e capacidade de baterias se materializarem até 2030, a oferta da maior parte desses metais vai ter que crescer cinco vezes. Seis anos no tempo de mineração é praticamente amanhã”, afirmou.
“Vamos precisar de mais 30 – 34 para ser exata – Sigmas para dar conta da demanda. Como vamos fazer com que elas surjam?”
Hoje, a Sigma é avaliada pouco menos de US$ 3 bilhões na Nasdaq e na Bolsa de Toronto, praticamente estável no ano, mas com queda de 30% em 12 meses.
FONTE: https://exame.com/exame-in/em-riad-os-metais-que-movem-o-mundo-vem-do-brasil/