“Existe o risco de epidemia ou pandemia de gripe aviária”, diz médico

Ao CB.Saúde, especialista falou sobre a possibilidade de transmissão da doença entre os seres humanos e enfatizou a necessidade do uso correto de equipamentos de proteção individual nos criadouros de aves

Existe risco de uma possível pandemia de gripe aviária, caso não sejam tomadas medidas de controle tanto para os efeitos das mudanças climáticas quanto para reforçar a biossegurança em criadouros, especialmente de aves. A afirmação é do infectologista Henrique Valle Lacerda, do Hospital Brasília, da Rede Américas, durante o programa CB.Saúde — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília, de ontem. Em entrevista às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte, ele também comentou sobre a possibilidade de essa doença começar a ser transmitida por humanos.

Uma criança morreu no México, recentemente, após ser infectada pela gripe aviária. É um motivo de preocupação para a nossa região?

É uma preocupação porque hoje nós temos grandes mudanças climáticas. É importante entender que existe um fenômeno chamado “spillover”, que ocorre quando há a transmissão de vírus ou bactérias de animais para seres humanos. Com o aumento do aquecimento global, desmatamentos e enchentes, a transmissão de vírus e bactérias emergentes, ou até reemergentes, pode tornar-se mais comum. No caso da criança que morreu no México, foi confirmada a exposição a aves contaminadas. Por isso, é essencial adotarmos medidas de controle tanto para os efeitos das mudanças climáticas quanto para reforçar a biossegurança em criadouros, especialmente de aves. Porque o risco de uma epidemia ou pandemia realmente existe. 

Essa transmissão ainda não ocorre entre humanos. Há possibilidade de mudança no comportamento do vírus?

Historicamente, temos vírus conhecidos que passaram de animais para humanos, como o HIV, o ebola e a covid-19. É importante lembrar que os vírus têm uma alta capacidade de mutação genética. Se, por algum motivo, um vírus transmitido de um animal para um ser humano sofrer uma mutação no corpo humano, ele pode adquirir a capacidade de se transmitir de pessoa para pessoa.

Quantas cepas (variações) da gripe aviária existem hoje?

Temos várias cepas, no entanto, nem todas causam doença em humanos. Mas como o vírus sofre mutações constantemente e muitos desses animais são silvestres, nem sempre conseguimos identificar essas novas cepas. O H5N1, que é a cepa atual, ainda não apresenta transmissão sustentada entre humanos. Essa é a cepa identificada nos Estados Unidos e que causou a morte no México. Existe a possibilidade de transmissão entre humanos, mas ainda não há confirmação nem estudos suficientes que comprovem isso.

Além do caso de morte no México, tivemos registros relevantes entre animais aqui na América do Sul?

Não só na América do Sul, mas especificamente no Brasil. Nós temos locais e regiões com identificação de animais silvestres e também criadouros, por exemplo, de galinhas, com presença do vírus H5N1. A questão é a biossegurança, porque, se por algum motivo ocorrer contato com esses animais doentes, podemos ter infecções, novos casos e isso pode, sim, gerar uma pandemia.

O governo federal decretou um estado de emergência proibindo feiras com aves por 180 dias. Quais cuidados devemos tomar no dia a dia?

É importante lembrar que pessoas com exposição a criadouros de aves precisam manter um certo nível de biossegurança. Existem recomendações para uso de equipamentos de proteção individual, os EPIs, justamente para evitar que, nesse contato direto com as aves, ocorra transmissão entre animal e ser humano. Isso é essencial. Criadores e profissionais da área rural devem fazer uso correto de EPIs — não só aventais, mas também máscaras, gorros e a higienização adequada das mãos. Essas medidas são fundamentais para evitar infecções entre animais e humanos.

Ainda não existe uma vacina específica contra a gripe aviária. A vacinação com outros tipos de influenza como estratégia para tentar controlar essa situação vale a pena?

A vacina é uma ferramenta fundamental quando falamos de doenças infecto-parasitárias. Nem todas têm vacina, mas muitas são imunopreveníveis. Uma herança positiva da pandemia de covid-19 é que a tecnologia de produção de vacinas avançou muito. Hoje, a velocidade para desenvolver novas vacinas contra doenças emergentes aumentou significativamente. Para que tenhamos uma vacina eficaz e efetiva contra o H5N1, ela precisa passar por várias fases de estudo, normalmente quatro, até chegar ao paciente. Enquanto isso, a vacinação em massa contra a gripe comum, especialmente contra influenza A, B e H1N1, é extremamente importante. Quanto mais pessoas vacinadas, menor a circulação dos vírus. Isso ajuda a evitar surtos e até pandemias. 

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2025/04/7107346-existe-o-risco-de-epidemia-ou-pandemia-de-gripe-aviaria-diz-medico.html

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